Depois de uma série de trabalhos fotográficos realizados em países como Portugal, Irlanda ou Grécia, Georges Dussaud (Brou, França, 1934), aventura-se, em outubro de 1993, numa demorada viagem pela Índia, de que resultaria um impressionante e prolixo corpo de trabalho.
Como qualquer viajante experiente, Dussaud sabe que esta jornada pela Índia nunca será uma viagem banal. A experiência mostrar-se-á tão marcante e tão diferente de tudo aquilo o que já vira e fotografara que, entre as décadas de 1990 e 2000, regressará à Índia mais quatro vezes. De norte a sul, e no seu modo habitual de deambulação e errância, visitou várias cidades e estados deste “país-continente” feito de abissais contrastes sociais e onde parece não haver fronteiras entre o sagrado e a vida quotidiana.
Entre imagens de puro encantamento e situações difíceis de suportar, a jornada seria bem diferente da experiência negativa que conhecera pela obra, “O Cheiro da Índia”, do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, mas também bem longe da atmosfera poética que guardava do protagonista do filme “O Livro da Selva”, a criança indiana que montava o dorso de um elefante, que vira na infância, a preto e branco, e que terá estado na origem deste fascínio pela Índia.
Crianças, vira-as às centenas a mergulhar nuas no rio, tal como vira os elefantes no meio das desmedidas multidões que se reúnem para participar nos festivais religiosos do Estado de Tamil Nadu; como assistira ao bulício e ao caos dos mercados apinhados de gente em Calcutá, onde as imagens de miséria, como as de bandos de crianças maltrapilhas, parecem coexistir pacificamente com as da opulência.
Nas suas fotografias, feitas de vários mundos simultâneos, não faltam também as arquiteturas sumptuosas de templos e mausoléus, como o Taj Mahal, em Agra; os rituais de purificação dos homens e mulheres que diariamente se banham nas margens do Rio Ganges; ou, mais a fundo, a austera disciplina exigida aos jovens praticantes de danças e artes marciais, na região de Kerala.
Apresenta-se ainda, na última sala, um conjunto de fotografias que Georges Dussaud realiza entre 1991 e 1995, no condado de Mayo, na Irlanda. As paisagens, o quotidiano da vida no campo ou a vida animada dos icónicos pubs associam-se aqui a outros registos, como o da dimensão religiosa, particularmente a epopeia dos milhares de peregrinos que, anualmente, num ato de fé, sobem descalços até ao ponto mais alto de Croagh Patrick, a montanha mais sagrada da Irlanda.
Curadoria: Jorge da Costa
Produção: Município de Bragança
Centro de Fotografia Georges Dussaud